Antropologia: estudo do ser humano como ser biológico, social e cultural.
Não confundir com arqueologia, o estudo das sociedades e culturas passadas, nem com a antropologia filosófica e teológica.
ABORDAGENS
- ALPACA (Archeology, Linguistics, Physical-Biological, Cultural Anthropology): a abordagem americana possui quatro grandes campos:
- Antropologia Linguística: documenta línguas ágrafas e estuda discursos;
- Antropologia Física ou Biológica: além de estudar o ser humano como um ser biológico, estuda outros primatas (primatologia) e pesquisas forenses (antropologia criminal);
- Antropologia Arqueológica: estudos de culturas passadas por meio de cultura material. Um grande auxílio para a antropologia pré-histórica;
- Antropologia Cultural: estudo de comportamento e sistemas simbólicos, religião, instituições sociais e políticas, de onde sai o sub-campo culturalista da antropologia psicológica.
- Antropologia Cultural x Antropologia Social: escolas americanas x britânicas. Hoje essa diferença é mais histórica. A escola britânica enfocava nas estruturas sociais, parentesco, política, enquanto a americana em simbolismo e particularismo histórico de cada cultura.
- Antropologias “francesa” e a “anglo-americana”: a primeira, muita teoria e pouco trabalho de campo; a segunda, muito trabalho de campo e pouca teoria (teoria globalmente consistente, ao menos).
- Antropologia x Sociologia: a Sociologia surgiu como o ‘estudo de Nós’ e métodos quantitativos ou de gabinete. A antropologia surgiu com o ‘estudo dos Outros’ e métodos qualitativos e de trabalho de campo. Hoje as fronteiras disciplinares estão se apagando, a diferença está mais na teoria adotada.
HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA
A antropologia surgiu com a expansão colonial para compreender (e dominar) o Outro.
Seu primeiro objeto foi o estudo das populações que não pertencem à civilização ocidental durante a expansão do colonialismo.
Final do séc. XVIII: início pretensamente científico com o ser humano como objeto de conhecimento.
Primeiras escolas teóricas do séc. XIX:
- Evolucionistas: selvageria→barbárie→civilização. Unidade psíquica do ser humano.
- Difusionistas: povos ‘primitivos’ não seriam capazes de invenção, portanto, teriam copiado suas instituições de povos ‘avançados’, isto é, europeus ou do Egito
Antropologia Científica no início do século XX: interpretação de culturas por seus próprios termos. Foco no trabalho de campo e em povos marginais (indígenas).
- Funcionalismo, funcional-estruturalismo.
- Particularismo Histórico, Determinismo Cultural, Cultura e Personalidade.
- Estruturalismo.
- Neoevolucionismo e ecologia cultural.
- Materialismo cultural
- Escola de Manchester, estruturalismo britânico e transacionalismo.
- Escola de Chicago
Mudanças da década de 1960: Com a redução de ‘povos exóticos’, a partir dos 1960 os antropólogos voltaram-se ao estudo de sociedade complexas (urbano-industriais), sem deixar o estudo de grupos humanos minoritários (camponeses, índios aculturados, marginalizados urbanos, minorias étnicas, sociais e de gênero), especialmente no encontro deles com as sociedades de Estado.
- Antropologia simbólica, interpretativismo e giro hermenêutico.
- Antropologia cognitiva e etnociência.
- Antropologia pós-moderna.
- Ecologia política.
- Economia política.
- Antropologia marxista francesa ou antropologia da libertação.
- Antropologia do gênero e do poder, antropologia feminista, antropologia queer.
Desde dessa época, os antropólogos brasileiros têm estado presente nos trabalhos da FUNAI.
Fragmentações do final do século XX e início do século XXI:
Contexto: fim da Guerra Fria, globalização intensificada, avanços das comunicações, consenso neoliberal e sociedade de risco.
- Antropologia da prática.
- Antropologia urbana.
- Antropologia da globalização.
- Antropologia do consumo.
- Antropologia da complexidade.
- Antropologia simétrica.
- Virada dos afetos.
- Virada ontológica.
- Virada da teoria etnográfica.
Interesses antropológicos: nesse período, Ortner (2016) aponta para a existência das:
- Antropologias das trevas: retratos das explorações e degradações do ser humano sobre o ser humano e o ambiente.
- Antropologias do bem: otimistas quanto à moralidade do ser humano.
- Etnografias da resistência: em resposta a essas duas antropologias acima, atuando em duas frentes,
- Crítica cultural, atuando contra os males descritos nas antropologias das trevas. A ética da probabilidade de Appadurai.
- Alternativas de poder e economias. A ética das possibilidades de Appadurai.
MÉTODO
- Etnografia: método de descrição e análise de um grupo étnico por meio de extensivo trabalho de campo, especialmente pela participação–observante.
- Etnologia: estudo comparativo de dados sobre diferentes povos.
Dificuldades:
1) Arbitrariedade das palavras;
2) Cientificidade: o ser humano como objeto e sujeito da pesquisa;
3) Proximidade disciplinar, especialmente com a história;
4) Oscilação entre antropologia fundamental e antropologia aplicada. As urgências são:
-
- preservação dos patrimônios culturais locais ameaçados.
- análise das mutações culturais cada vez mais rápidas.
5) Multiplicidade de subcampos especializados ao tempo que demanda uma compreensão geral.
Objeto: O campo e a abordagem antropológicos:
- O estudo do ser humano com um todo;
- O estudo do ser humano em todas as sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as épocas.
CULTURA
Definições
Taylor: conjunto complexo que inclui conhecimento, crença, arte, lei, moral, costumes e demais capacidades e hábitos adquiridos pelo ser humano enquanto membro da sociedade.
Geertz: um padrão historicamente transmitido de significados incorporados em símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio das quais os homens se comunicam, perpetuam e desenvolvem seu conhecimento e atitudes em relação à vida. A cultura é a ‘totalidade acumulada’ de padrões simbólicos que aparecem em diferentes sociedades, não é apenas um ornamento da existência humana, mas uma condição essencial para isso.
Laraia: processo acumulativo que resulta de toda a experiência histórica, estimula a ação coletiva do indivíduo. É a lente pela qual se vê o mundo. O ser humano é produtor e produto de sua cultura.
Alta e Baixa Culturas: ‘cultura’ tradicionalmente foi a produção de elite: artes plásticas, literatura, artes plásticas, música erudita. Depois, com a visibilidade das classes subalternas abrangeu artes populares e o folclore. Cultura em sentido antropológico é mais amplo que essas acepções.
Características da Cultura
- Compartilhada: somente o que é humanamente transmissível é cultural.
- Apreendida: tanto no sentido de aprendida quanto de capturada. Não é genética.
- Simbólica: se expressa em símbolos.
- Integrada: seus diversos elementos se interligam entre si.
- Dinâmica: em constante mutação.
TEMAS
Etnocentrismo:
(1) julgar o próprio povo como o normativo, o melhor, o mais certo, mais bonito, o mais lógico, o mais moral que outras etnias.
(2) Julgar outras etnias com parâmetros de sua própria etnia. Oposto ao relativismo cultural.
Relativismo Cultural: avaliar a cultura de um grupo humano baseado em termos e valores internos ao grupo.
Alteridade: a consciência que o Outro é diferente. “A descoberta da alteridade é a de uma relação que nos permite deixar de identificar nossa pequena província de humanidade com a humanidade, e correlativamente deixar de rejeitar o presumido ‘selvagem’ fora de n´os mesmos” Laplatine.
Estranhamento: depaysement: “a perplexidade provocada pelo encontro das culturas que são para nós as mais distantes, e cujo encontro vai levar a uma modificação do olhar que se tinha sobre si mesmo”. Laplatine.
(1) técnica de pesquisa que desconsidera ‘fatos’ como naturalmente aceito;
(2) atitude resultante do contato entre pessoas de culturas diferentes.
Identidade:
- modernidade e pós-modernidade: a identidade moderna limitava a afiliação de um indivíduo a um só grupo, por exemplo, declarar a profissão na qualificação civil de um contrato. Já na pós-modernidade, a identidade é fluida, não necessariamente afiliada a um grupo, mas conectada a diferentes redes, por exemplo, o qualificado civilmente ser ao mesmo tempo empregado e patrão.
- Marcadores de identidade: não são elementos que limitam, mas atributos comuns dentro de um grupo que ganharam peso cultural: etnicidade, religião, naturalidade, nacionalidade, ruralidade, urbanidade, família, clã, tribo juvenil, subcultura popular, emprego, status civil, sexo, gênero, afinidade político-partidária, faixa etária, classe econômica, condição penal, etc.
- Etnicidade: autoidentificação como pertencente a grupo e mútuo reconhecimento de pertencimento a esse grupo.
SAIBA MAIS
A diferença entre a Antropologia e outras disciplinas
Onde estudar antropologia no Brasil
Ó no que deu estudar antropologia — celebridades com essa formação.
https://tartarugascinefilas.wordpress.com/2019/01/05/o-que-e-antropologia/
O antropólogo Lévi-Strauss na Serra da Caixa Furada, MT. 1938.